terça-feira, 19 de abril de 2011

Brasil entre a Suíça e a Jamaica

Os motivos por trás do massacre das crianças no Rio de Janeiro ainda são discutidos. E em parte porque não há lógica capaz de traduzir ações de um desequilibrado, ainda que antecipe em vídeo suas atrocidades.

Como continuam a existir mais interrogações do que respostas, tendem a aflorar teses motivadas por emoções e, com elas, tentativas desprezíveis de aproveitar a comoção para emplacar interesses espetaculosos. Fazem parte delas as declarações do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, atribuindo a violência no país à venda legal de armas. E a adesão subserviente de parlamentares, igualmente.

A manobra para realizar um plebiscito sobre a venda de armas no Brasil é uma delas. A matéria foi alvo de referendo em 2005, no qual 64% da população votou favorável à manutenção da venda, com rigorosa avaliação do comprador.


O argumento para simplesmente ignorar a decisão anterior e partir para novo questionamento popular é, no mínimo, curioso: “A população foi induzida ao erro”. A retórica é tão pueril que é facilmente encontrada no jardim da infância: “A vitória só vale se for na melhor de três” ou “Quando eu ganhar, a gente para de disputar”.Além de imberbe, a proposta, caso prospere, abre perigoso precedente.


O referendo de 2005 foi realizado sob regras normais, como tempo igual na televisão para ambos os lados apresentarem suas ideias. Se ele não tiver validade assegurada, o que garante a lisura das demais disputas nas urnas? Afinal, o cidadão também pode ter sido induzido ao erro ao escolher um candidato e não outro. Parece tese conspiratória, mas é apenas desfaçatez.

A lorota de que o fim do comércio de armas vai acabar com a violência não passa pelo rigor do simples raciocínio lógico, que dirá das implicações legais da matéria. Como o empresariado internacional vai confiar seus investimentos no Brasil com tamanha insegurança jurídica? Quem garante que o comissariado do governo não vai propor um plebiscito para nacionalizar empresas estrangeiras? Parece absurdo, mas nos dias de comoção os absurdos convencem até as melhores cabeças.


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(Fonte: Site Congresso em Foco)

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