terça-feira, 24 de maio de 2011

"Mãe, se você matar alguém, fica famosa"

 Por Renata Camargo

No último fim de semana, acompanhada de uma prima e sua filha, de seis anos, eu estava indo para um almoço de família, quando a menina indagou:

- Mãe, quando é que você vai ser famosa?

A mãe caiu em gargalhada:

- Ué, num sei, filha...

- Acho que você devia virar jornalista! Aparecer na televisão! - disse a menina empolgada.

- Não filha, jornalista é a tia Rê. Mamãe é estilista... Mas, calma, eu ainda vou ser famosa – brincou.

A menina inconformada emendou:

- Ah, mãe, mas eu quero que você seja famosa logo... Acho que você devia matar alguém – disse a menina, instaurando um silêncio constrangedor.

- Como assim, filha?! - disse a mãe.

- É, mãe! Se você matar alguém, você vai sair na televisão...

- Não, filha, a gente não pode ser famosa fazendo coisa ruim. Não é certo. Aí, mamãe vai presa. Já pensou? Não é bom ser famosa assim.

- Ah mãe, se você for presa, eu mato alguém também para ir presa junto...

- Filha, chega! Vamos mudar o rumo desta prosa...

- Mas é, mãe, se você matar alguém, você fica famosa! E eu quero que você fique famosa logo! - disse imperativa.

- Chega, Júlia! Vamos falar de outra coisa! - desconversou a mãe.


"Se você matar alguém, você fica famosa". É isso que estamos fazendo com nossas crianças. Jornalistas, editores, donos dos meios de comunicação, se por um lado contribuem, por outro, estão enlouquecendo a sociedade. Ao dar audiências extremadas a casos de violência e outros fatos de degradação humana, estamos afirmando que quem comete crimes, especialmente hediondos, tem direito a minutos (horas, dias ou semanas) de fama.

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