domingo, 23 de janeiro de 2011

O câncer e a poluição em São Luís

*Por Chico Viana

Já saltam aos olhos o incremento da incidência de cânceres no em nossa capital, como de resto no Brasil e no mundo inteiro, mas aqui parece que a situação tem se agravado exponencialmente.

Não é necessário ser médico para constatar o fato. O falecimento precoce e brutal de Josilda Bogêa, estimulou a prospecção e a natural indagação do por quê do fenômeno. E a análise de cada um foi mais que convincente.

Não temos estatísticas de mortalidade e morbidade confiáveis no Maranhão. Os últimos dados que dispomos (2006), previa-se o diagnóstico de 4.250 casos de cânceres, 2.340 em homens e 1.910 em mulheres. É evidente a sub-notificação e o não diagnóstico, afinal só dispomos de um hospital para tratamento oncológico no Estado.

No mundo, 7,6 milhões (7 milhões e 600 mil), em 2005, com previsão de 9 milhões em 2020. No Brasil 489.270 (2010). Uma verdadeira praga.

A análise do incremento desta patologia no Maranhão nos remete necessariamente à poluição ambiental da Ilha e está mais que comprovado a relação de causa e efeito entre as duas ocorrências.

Existem trabalhos relevantes que não deixam dúvidas. Consultem: (http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/artigos/metais_pesados.html e (http://www.achetudoeregiao.com.br/animais/poluicao_no_ar.htm).

Os arsenicais, por exemplo, é um deles, usados industrialmente em metarlurgia para fundição de metais férricos, justamente o que mais faz a Vale.

O Cromo, além de câncer de pulmão, também é responsável por câncer de laringe e seis paranasais é encontrado na anodização térmica do alumínio, também uma fase importante da industrialização do alumínio da Alumar, que de uma, hoje já são quatro fábricas em tamanho e produção.

O níquel, o cádmio, que eleva o risco de câncer de pulmão em 10 vezes mais e que, é encontrado em pilhas e baterias, cuja destinação e tratamento ninguém se preocupa. Idem para o cádmio, este com maior prevalência sobre o câncer de próstata.

A fuligem do carvão vegetal e o alcatrão do carvão mineral, o pó, tão festejados quando aqui chegam via usinas termoelétricas, fábricas de cimento e nos auto-fornos das indústrias siderúrgicas.

E tem mais, porque temos mais na Ilha.

Os óxidos de enxofre e nitrogênio, abundantes na queima de carvão mineral, em uma termoelétrica se instalando na Ilha, são altamente cancerígenos.

O mercúrio, também abundante em acumuladores, pilhas e baterias que se decompõe a céu aberto é um dos grandes causadores de cânceres, em especial a um tipo que hoje é a quarta maior incidência no homem e a terceira da mulher, o de cólon.

É simples: a eliminação do mercúrio através do cólon produz necrose da membrana mucosa, a qual se dilacera, o que é o primeiro estágio para lesões neoplásicas.

Um estudo com 972 mulheres que vivem ou trabalham em grandes cidades, realizado no Hospital “Princess Grace”, em Londres, associa a poluição adenocarcioma mamário.

No trabalho, “Mortality and incidence of cancer in workers in bauxite”, (http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ijc.23554/abstract) detecta-se o aumento de um tipo de um tumor específico no pulmão,o mesotelioma, em 49%, pela ação da bauxita.

Há um trabalho de pesquisadores do Centro Médico Kaplan e Faculdade de Medicina da Universidade de Tel-Aviv, Israel, comprovando uma associação entre aumento da incidência de câncer, nove tipos, e residir próximo a uma estação transmissora de telefonia celular, principalmente em mulheres, com uma incidência quase 20 vezes maior ao registrado em áreas fora. (www.mreengenharia.com.br/pdf/artigo_05_cancer.pdf).

Naturalmente estes dados valem para o Brasil inteiro, mas em nossa Ilha há uma conjunção hedionda deles. Somos pródigos em termos agentes causadores de cânceres de maior incidência.

O Jornal Brasileiro de Pneumologia, edição de março de 1962, “Carcinoma Brônquico (e outros cânceres): agentes determinantes na exposição”, conclui com a seguinte advertência:

- Resaltamos o papel dos agentes químicos industriais, pois se tem silenciado sobre tão estarrecedora realidade, provavelmente mancomunado com a ideia, inconsciente(?), de que o holocausto ao progresso, estas mortes, se justifiquem.

O solo da Ilha é altamente poroso, o lençol freático quase à superfície, as megas-usinas de industrialização de alumínio e ferro, os lagos de bauxita de até 8 mil metros quadrados se multiplicam.

Não há legislação para o descarte apropriado de acumuladores de um modo geral, pilhas, baterias, etc... (temos uma lei aprovada e ainda não sancionada). Os veículos se espremem nas poucas avenidas descarregando monóxido de carbono à vontade, todos estes são fatores que nos levam a crer que há relação, sim, entre o câncer e a Ilha.

Uma Ilha praticamente apodrecida pelo incentivo de tantos e entregue a depredadores sob o pretexto de míseros subempregos, nunca os empregos decentes. Os fins justificam os meios, argumentam, mesmo que sejam dos mais abjetos, com um dano físico irreparável.

Por que não incentivar-se o tráfico de entorpecente, um dos maiores empregadores do Rio de Janeiro? Estão procurando quem os abrigue, e São Luís está em pleno leilão de sua integridade, para quem emprega mais.

O princípio é o mesmo, só que um causa um dano físico, rumo à morte ou à enfermidade incurável, o outro um dano moral, abrindo-lhes o caminho para a marginalidade.

E infelizmente existem muitos “fernandinhos beira mar” nesta área do meio ambiente no Maranhão.

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